30 abril 2014

A Minha Crónica na Lx4KIDS #3




Só um minuto 

Apressados pelo relógio e pelas tarefas, vivemos a correr o tempo entre chegar do trabalho e voltar para ele, entre trazer a pequenada da escola e voltar a deixá-los lá pela manhã, numa espécie de maratona sem meta, numa lufa-lufa diária que não acaba, que não sossega.

“Espera só um minuto” respondemos à chegada a casa, enquanto o nosso filho nos relata o auge do intervalo do almoço e da brincadeira nova que ele e os amigos inventaram. Temos o telefone a tocar, uma consulta para desmarcar, roupa para separar entre branca e com cor, roupa para apanhar antes que volte a chover e, mais uma vez, nada a descongelar para o jantar!
“Espera só um minuto” respondemos enquanto o enfiamos no banho ou vestimos o pijama e ele explica detalhadamente a piada que um colega disse mesmo no meio da aula de Estudo do Meio. Nós encaixamos cuecas, meias e t-shirts nas gavetas e roupeiros pela casa e damos um salto à cozinha para desvirar a arca congeladora e descobrir algo rápido, prático, unânime e eficaz para jantarmos.
“Espera só um minuto” respondemos durante o jantar, enquanto o nosso filho conta um episódio que acabou de ver na tv, rindo em soluços entre as frases. Nós queremos só cortar o bife, juntar o arroz, mastigar devagar, beber um gole de água e, depois, levantar a mesa, encaixar a louça toda dentro da máquina, arrumar a cozinha e sentar no sofá.
“Espera só um minuto” respondemos entre tpc’s de língua portuguesa, matemática ou inglês, enquanto o nosso filho se multiplica em dúvidas e dificuldades, em perguntas que não entende mesmo e em resposta que não sabe onde estão. Nós só queremos ouvir uma qualquer notícia do telejornal até ao fim ou folhear uma revista ou simplesmente vegetar, no canto do sofá.
“Espera só um minuto” respondemos ao nosso filho que, orgulhosamente, nos quer mostrar a melhor jogada que fez no jogo da PSP. Nós queremos falar ao telefone com uma amiga, trocar dois dedos de conversa com o marido, pesquisar isto ou aquilo no Google ou pôr “likes” nas publicações dos amigos no Facebook.

“Ó Mãe, só mais um minuto” pede o nosso filho, docemente, quando avisamos que são mesmo horas de ir para a cama. Lá vai ele resignado, casa adentro, deitando-se, ouvindo a história que contamos, esticando-se nos abraços e beijinhos de boa-noite e aconchegando-se na almofada entre peluches e cobertores.
Antes de irmos dormir, voltamos para ver o nosso filho adormecido, tapamos-lhe melhor o corpo, ouvimos o seu respirar e, naquele instante, temos os minutos todos só para ele.

in Lx4Kids Maio 2014

14 abril 2014

A Minha Crónica na Lx4KIDS #2



A crescerem ao Sol 


Foi então que chegaram os dias de sol. Vários seguidos, sem chuva, sem nuvens, sem frio sequer. Todos tiraram roupa, despiram casacos, trocaram calçado. Tantos saíram para a rua, encheram esplanadas e jardins, provaram gelados e pediram gelo na bebida.

As rotinas mudaram. Mudam sempre com os dias da semana e as estações do ano e, quando os finais de tarde guardam sol, mudam para melhor.

Sempre se disse que as crianças, como as árvores, crescem mais na primavera. Desabrocham. Descobrem-se. Ganham cor e amadurecem. As mais pequenas dão primeiros passos e outras deixam de usar fralda. Os maiores desdobram-se em perguntas e questões, dúvidas e considerações próprias. Nós, encantados com a temperatura e inebriados com a luz, acompanhamos-lhes o crescimento e as ideias que trazem, desvendamos-lhes mistérios e, por vezes, queremos travá-los. Deixá-los exatamente como estão. Sentir-lhes mais um pouco o corpo pequeno enrolado no nosso. Os abraços doces enleados nos nossos. Os beijos suaves lambuzados nos nossos. Vê-los pequenos, feitos de inocência e simplicidade, de verdade e ilusão. Somente isso. Serem os nossos filhos, antes de nós sermos apenas os seus pais. Manterem-se, só mais um pouco, os meninos das mamãs e dos papás, dos avós e das professoras, que ainda os abraçam à chegada e limpam o nariz quando têm ranho.

A primavera faz-lhes crescer os pés e os braços, tornando os ténis apertados e transformando camisolas de manga comprida em t-shirts. Dizem mais coisas, aprendem mais palavras, reparam nas pessoas que passam e nos prédios que crescem. Falam do que viram e ouviram, pensam coisas deles e defendem ideias que criam. Olham mais longe e reparam melhor.
O bem que o Sol faz aos nossos filhos é proporcional ao medo que temos por os perdermos, por serem cada vez mais eles próprios e menos nossos. Por eles crescerem tanto e pertencerem- nos menos, tornarem-se autónomos e donos das vontades que trazem.

Então, sabemos lá no fundo, olhando-os de soslaio entretidos nas coisas que são só deles, que chegará o verão e voltará o inverno e que os nossos filhos crescem, mudam, sem culpas nem desculpas da primavera ou do Sol. Crescem na medida precisa do que crescemos nós também, quando tínhamos a idade deles e nem imaginávamos o quanto os nosso pais nos queriam ter pequenos, sentir- nos parte deles, fechados no colo, enleados no abraço, lambuzados de beijos. Até hoje.

in Lx4KIDS Abril 2014

02 abril 2014

Há 3 coisas...

...no meu filho perfeitamente adultas:

1.quando quer alguma coisa diz "eu"
2.quando a conversa inclui estudar, tpc's e outras obrigações diz "nós"
3.quando algo corre mal diz "eles"