27 junho 2012

Há 3 coisas que...

odeio nas pessoas:

1. terem a mania que estão sempre um passo à frente dos outros
2. auto-elogiarem-se por tudo e por nada
3. auto-comiseração

19 junho 2012

Gosto Não Gosto

Gosto da rotina.
Não gosto de pessoas que dizem que não gostam da rotina (em vez de repetirem que não gostam da rotina que têm deviam era arranjar uma rotina nova de que gostem, não?).

14 junho 2012

Conversas com ele

I

Depois de eu ter dito mil vezes que aquelas duas bolachas eram as últimas que havia em casa, o Tiago pergunta enquanto mastiga a segunda:
- Tens mais?
Eu já irritada digo:
- Ó Tiago não há. O que é que eu te disse há bocado?
- Que gostas muito de mim?!


II

Um bicho-de-conta aparece no chão da sala. Instintivamente ponho o pé em cima, devagarinho, e ele enrola-se. Salta o Tiago do sofá:
- Mataste o bicho! Mataste o bicho!
Eu, aflita, invento uma resposta:
- Não matei nada Tiago. Ele enrolou-se mas está vivo.
Enquanto digo isto atiro com o bicho para a sanita:
- Onde é que o meteste, Mãe?
Ups! Segunda justificação inventada apressadamente:
- Mandei-o para a sanita porque estes bichos vivem lá em baixo nos canos...
O Tiago acende a luz da casa de banho e diz:
- É para ele ver o caminho.
Depois, vai à sanita, espreita lá para dentro e puxa a água, enquanto me explica:
- Assim ele chega lá mais rápido.

11 junho 2012

O privilégio de estar vivo



Durante muitos anos pensei que era uma privilegiada. Assumo.
Olhava para o lado e pensava: “Ainda bem que aquele/a não sou eu. Ainda bem que eu sou esta que sou, dentro da vida que tenho”.

Desde muito cedo que me aconteceram coisas muito boas, coisas pequenas e triviais mas que me enchiam de esperanças e de força. Concretizava sonhos, fazendo por eles e vendo-os acontecer. Parecia simples. Bastava querer. Ser capaz.
A minha pré-adolescência, adolescência e pós-adolescência (ou lá como chamam hoje a esses anos que dantes eram simplesmente os do “armário”) estão cheias de momentos únicos, de acontecimentos imprevisíveis e dignos de memórias saudosas. Muito do que sonhei aconteceu ali naquele tempo: a rádio, os primeiros artigos nos jornais, os ídolos ao telefone ou mão na mão, as cartas trocadas com a escritora de eleição, os concursos de escrita ganhos no primeiro lugar, as viagens, a estabilidade emocional, familiar, de amizade, de conforto até. Tudo direitinho e seguro. Sem golpes de sorte. Com tentativas, com riscos, com “e porque não experimentar?” e... acontecia.
Daí para o futuro tudo seria possível.

Cresci com a convicção de que escrever era o meu trunfo, deixei-o guardado comigo para fazer qualquer coisa com ele... mais tarde. Ouvi de muitos lados, de muitas vozes: “tu escreves bem” e isso, para mim, resolvia tudo. Tudo que seria: a profissão a escolher, as opções a tomar, a mais-valia perante outra qualquer pessoa.
E escrever foi mesmo resolvendo tudo. Ou quase tudo.
Porque veio um tempo em que a escrita era dos outros, em que a possibilidade de acontecer algo a partir do que escrevia era apenas rotina de trabalho, o dia a dia frente ao computador. Ou, então, refúgio de blogue pequeno feito de mim para os meus, de mim para o Tiago, do meu presente para o futuro dele.
Foi a travessia dos tempos da normalidade, ou da insignificância, em que se começa a olhar para o lado e a ver as galinhas das vizinhas bem mais gordas do que as minhas. Em que a felicidade é coisa de antes ou coisa dos outros. Em que “tentar?”, “para quê?”, “não vai resultar mesmo!”. Em que nos fechamos na ideia que o mundo começa e acaba numa decisão que se toma e que não deixam alterar. Em que não há espaço para se assumir, para nós mesmos, “afinal, não era bem isto...”.

Aos poucos, reaprendi a gostar de mim, a acreditar em mim, a saber de que matéria sou feita, a lembrar que os trunfos de antes podem ser os de agora. E, novamente, sem golpes de sorte, tudo recomeçou a acontecer.

Hoje,
há alguém que me diz para eu escrever uma história.
Hoje,
há convites para ideias que criei.
Hoje,
há mil possibilidades dentro da cabeça, que podem mesmo ser de verdade.
Hoje,
vivo dentro da história que nem nos maiores delírios da minha imaginação era tão perfeita.

Por tudo isso,
hoje volto a sentir-me uma privilegiada e até já dei por mim a olhar para o lado e pensar: “Ainda bem que aquele/a não sou eu. Ainda bem que eu sou esta que sou, dentro da vida que tenho”.

E ninguém imagina as saudades que eu tinha disto! E como o mereço. Descaradamente.



Ilustração - Ofra Amit

06 junho 2012

Saber de mim?

Estive num dos melhores concertos do ano,
mesmo que o ano ainda vá a meio





Vi um dos filmes mais duros de sempre,
mesmo que o sempre seja até ao próximo que me dê pesadelos





Já não passo um dia sem ouvir esta música,
mesmo que amanhã até falhe o vício






E tenho sugado o melhor que tem a vida,
mesmo sabendo que ela está, apenas, no melhor dos seus começos.