22 novembro 2009

Saber de mim?

Viciei-me, instantaneamente, nisto



Andei a sofrer com isto



isto



e mais isto




E ando fascinada com um isto de sempre

14 novembro 2009

A Maldade


Eu sabia. Sabia que quando aqui voltasse, teria de falar no assunto. Então adiei. E às páginas em branco abertas em princípios de noite, sucederam-se as páginas em branco fechadas antes de dormir.
Sabia que não daria para seguir em frente sem escrever sobre o assunto. Sem o registar aqui como mais um pedaço da história. Da minha. Da dele. Mais da minha do que da dele. Muito mais da minha, na verdade.
E, acima de tudo, eu sabia que teria inúmeras dificuldades para ordenar o pensamento e coordenar as frases, para escolher uma linha que oriente o discurso e seja fiel aos factos.
Então, deixei passar o tempo. Deixei as páginas em branco e guardei o silêncio em forma de protesto.

Contudo, agora, sei que para seguir em frente há que recuar. E deixar esta história escrita, sem poesia, cruamente como merece a verdade, é esse o meu primeiro passo para... avançar.

O Tigy mudou de escola e logo a partir do primeiro dia da nova rotina foi acusado de "agressividade extrema e continuada" para com as restantes crianças. Crianças essas que com ele mudaram para aquela escola e que com ele convivem há 3 anos lectivos. A educadora, essa sim uma personagem nova, comunicou-me, 4 ou 5 horas depois de o conhecer, que ele tinha brincadeiras muito violentas e que batia desmesuradamente nos colegas. O rol de descrições completamente surreais de atitudes do meu filho na escola sucederam-se durante as primeiras semanas de aulas, vindas dos pais dos colegas e por todos os meios.
Olhando o Tigy em casa, com as suas birras e os seus carinhos, com as suas gargalhadas tão sonoras e as suas teimosias, com as suas manias de mimo e a sua perspicácia para aprender um pouco de tudo, oscilei durante tempo demais entre dois cenários que não se conjugavam.
Um dia simplesmente não o levei à escola. Ficámos os dois em casa, a ver os desenhos animados que todas as crianças de 4 anos vêem, a pintar desenhos com as cores que qualquer criança escolhe e a preguiçar por aqui, como devem fazer tantas mães com os seus filhotes de 4 anos. Ao final da tarde os dois, de mãos dadas, entrámos na escola para uma reunião. Eu levava a pergunta "O que se passa?" e trouxe a resposta "Nada assim tão grave como querem fazer parecer".
Uma semana depois a normal reunião de pais transformou-se em 2 horas de total perseguição a mim, entre acusações e especulações infundadas e maldosas. (Perseguição e acusação a mim. Sim. Nunca poderei dizer ao meu filho, que isso iria doer muito mais.)
O que vivi naquela reunião não se deseja a ninguém, especialmente a nenhuma mãe.
O ataque verbal de uns contaminou toda uma sala e mesmo para aquela que ao meu lado perguntava "Mas estão a falar de que criança?" o Tigy passou a ser um menino mau e violento que bate sem conta, peso e medida, sem razão ou contexto, em todos os que lhe aparecem à frente.
Cortando cenas para avançar no tempo: o Tigy é uma criança cheia de energia que reage mal à frustração e se defende nem sempre da maneira correcta, o Tigy foi vítima de violência de adultos que o usaram para fazerem valer as suas contestações perante a escola e os outros, o Tigy é uma criança mimada, carinhosa, divertida, inteligente, mas também, teimosa, birrenta, exagerada, incansável, é, enfim, uma criança de 4 anos.
Mesmo conhecendo-o como ninguém, e tentando sempre que isso valesse acima de tudo, há alturas em que o mais importante é pedir ajuda. Assim foi feito. Recorrendo à pediatra e, por sua indicação, a uma psicóloga, recebemos em algumas semanas um relatório da sua observação, perfeitamente avalizado e independente, que retrata fielmente o filho que tenho em casa, que nasceu da minha barriga e que é, simplesmente, um normal rapazinho de 4 anos de idade.

As atitudes ficam com quem as toma, sempre ouvi dizer. Pelo meu lado, enquanto mãe, tive de passar para a retaguarda para me tornar mais forte, ao seu lado, defendendo-o e protegendo-o desta forma animal que recebemos quando temos um bebé. Pelo meu lado, enquanto Beguinha, fica uma luta diária contra uma sensação de falhanço que teima em perseguir-me, dizendo-me repetidamente que não fui suficientemente capaz para o livrar de qualquer mal. E a luta continua: protegendo-o a ele deste inferno que são os outros, protegendo-me a mim dos pequenos infernos que acendo tantas e tantas vezes cá por dentro.



Ilustração - Mónica Carretero