17 fevereiro 2009

Debaixo deste céu



Provavelmente como tantas adolescentes da minha geração, "O Diário de Anne Frank" foi um dos primeiros livros - daqueles mais a sério, com mais páginas, sem bonecos -­ que li. Dele guardei sempre uma frase:

"Enquanto houver este céu azul e sem nuvens não posso estar triste".

Depois das semanas contínuas de chuva, abrir a porta de casa e ter, à minha espera, este céu azul e sem nuvens tem-me lembrado da frase e de uma Beguinha tão criança a ler um livro tão duro, de uma Beguinha tão pequena para uma frase tão grande.

Porque um céu azul e sem nuvens é muito mais do que apenas isso, é uma das mil coisas da vida que, de tão simples, quase não se notam, quase não se falam. Quando tudo o que é grande e imenso falha, sobram as coisas pequenas e simples...

...um pão quente com manteiga

uma canção na rádio daquelas que nunca dão

um primeiro episódio de uma coisa nova na tv

uma mousse de chocolate no fim do jantar

uma última página de um livro intenso

um abraço apertado

um telefonema inesperado

uma cama feita de lavado

uma boa conversa
um almoço em família

um banho de imersão

uma vitória no futebol
uma tarde de chuva à lareira

um beijo ao acordar

uma sesta no sofá

um filme com final feliz

uma gargalhada com vontade...



E é então que vemos que essas coisas pequenas são afinal as únicas que importam.
Na verdade, são as maiores de todas.



Ilustração - Macus Romero