31 dezembro 2008

Para a frente






Lembram-se disto?








Agora, troquem o sim pelo não, o sempre pelo nunca, o talvez por "e agora?", o bom pelo mau, o mau pelo péssimo e... eis o meu 2008. Se eu acreditasse nisso, diria que este ano juntou tudo o que de pior, de mais cruel, de mais profundamente doloroso poderia estar reservado para décadas de uma vida inteira. Se eu acreditasse nisso, diria até que depois de tudo isto nenhum ano poderá ser tão mau, nenhum ano poderá doer tanto. Se eu acreditasse mesmo nisso, diria ainda que foi de propósito que acrescentaram um dia a um ano destes e ainda mais um segundo ao seu último minuto. Mas, afinal, eu só acredito que amanhã é sempre outro dia. E, enquanto for essa a minha máxima, será esta a minha frase nos 31 de Dezembros que se seguirem:




FELIZ ANO NOVO!











21 dezembro 2008

Tua



Se há frase que ele diz e que me soa tão bem é aquela que junta três palavras:

"a minha mãe".

Di-la quando me procura pela casa:

- "Onde está a minha mãe?".

Di-la enquanto me agarra a cara:

- "É a minha mãe" -

aí acrescenta:

- "Não é de mais ninguém".

Di-la para me lembrar que nem sempre faço tudo o que ele quer:

- "A minha mãe é má".

Ou para dar o maior elogio de todos:

- "A minha mãe é bonita".

Este sentimento de posse do meu Tigy faz-me sempre lembrar uma canção de que gosto há muitos anos. Aquela em que o rapaz afirma, repetidamente, que "ninguém é de ninguém mesmo quando se ama alguém". Sempre achei que a verdadeira felicidade estava em ser de alguém ou de algum lugar. E, ao cantarolar, lembro-me que sempre assim foi. Comigo. Muito mais do outro do que de mim mesma... E sempre achei isso tão bom!

Se algum voto posso fazer para este Natal que seja este: que eu seja de alguém e que esse alguém mereça. Que eu seja de alguém e que esse alguém seja os que me querem bem. Os que ficam para o que der e vier. Os meus. Os para sempre.

Neste Natal que eu seja tua e tu me queiras para ficar.
Tua. Mãe.




04 dezembro 2008

Grande ecrã

"ESGOTADO". Depois de vários dias a repetir ao Tigy: "Vamos ao cinema!", a palavra "ESGOTADO", escrita a vermelho, bem por cima da bilheteira, acelerou o batimento cardíaco. Como é que se explica a uma criança que, afinal, já não vamos ao tão prometido cinema? Como?
- "Olha Tigy, afinal vamos ter de vir ao cinema amanhã. Acabaram os bilhetes..."
A frase nem foi terminada. Apontando para o vidro, a resposta dele foi...
- "Tá bem" - prolongando o "tá" como faz tantas vezes - "Mas quero pipocas".

Afinal, onde está a birra? O espernear deitado no chão? Alguns gritos? Uma lágrima ou outra? Nada?!

Lá vieram as pipocas e os bilhetes para o dia seguinte.

Bem sentado na cadeira, elevado alguns bons centímetros por uma pequena plataforma, o Tigy olhava para a sala, ainda iluminada, com total à-vontade. Até parecia que não era a primeira vez que ele ía ao cinema! Mas, quando o ecrã se abriu, ali mesmo, à sua frente, a luz diminuiu e um som estridente rodeou a sala, o Tigy arregalou os olhos, abriu a boca num ar de espanto e permaneceu completamente fascinado durante os 89 minutos do filme.

Eu, de pipocas na mão, vi mais o seu rosto na penumbra, com aqueles olhos tão curiosos fixados no grande ecrã, do que do filme que por lá passava. E serão sempre esses olhos, que nem pestanejavam, que marcarão essa minha tarde, essa minha ida ao cinema. Como um deslumbramento!

Ilustração - Benrei Huang

09 novembro 2008

Palavras dela para coisas minhas

Anda por aí em forma de desafio: pega-se numa imagem nossa, distingue-se um nome da música e respondem-se às 10 perguntas apenas com títulos de canções do grupo/artista escolhido. Depois, já se sabe, lança-se o desafio a quem o quiser agarrar! Mas eu... decidi inovar e acrescentei 3 perguntas às que alguém inventou e, também, uma nota final.

- EU -






- MAFALDA VEIGA -




- RESPOSTAS FEITAS DE PALAVRAS DELA -


1 - És homem ou mulher?

"Procura por mim"

2 - Descreve-te:

"Outro dia que amanhece"


3 - O que as pessoas acham de ti?

"Entre Achados e Perdidos"

4 - Como descreves o teu último relacionamento:

"Nós"

5 - Descreve o estado actual da tua relação com o teu namorado ou pretendente:

"Lado (a lado)"

6 - Onde querias estar agora?

"Antes da Escuridão"

7 - O que pensas a respeito do amor?

"Fragilidade"

8 - Como é a tua vida?

"Escuro e luar"

9 - O que pedirias se pudesses ter só um desejo?

"Um pouco de céu"

10 - Escreve uma frase sábia:

"Por outras palavras"

EXTRA:

11 - Onde fica o passado?

"Ao teu Redor"

12 - A desejar no futuro?

"Uma noite para comemorar"

13 - O que esperar do presente?

"Ficar mais perto"



NOTA FINAL

Uma canção a partilhar



<


Desafio que pula para

Nils

BlueAngel

SombrArredia

Cláudia Pinto

Malu79

24 outubro 2008

De braços abertos

Ele diz "Gosto muito de ti"
e prolonga as vogais enquanto abre os braços.
Então, eu lembro-me de que ali,
entre os braços dele,
cabem todas as razões para viver
e apetece ser pequenina,
tão pequenina,
muito mais pequenina do que ele,
minúscula mesmo,
e fechar-me lá dentro,
junto ao seu peito,
entre os seus braços e os seus beijos,
entre as suas palavras com falta de sílabas e os sorrisos...
os sorrisos.
Assim, pequenina, quase invisível,
protegida entre o melhor de tudo
que é o melhor do mundo,
talvez eu o fizesse feliz.
Quase tanto como ele me faz a mim,
cada vez que repete
"Eu gosto muito da mãe"
e abre os braços,
e abre o sorriso
e me fecha o peito numa dor sem fim.


Ilustração - ZZVe.com

24 setembro 2008

Tem de ser


Eram assim todas as manhãs: a luz do quarto a acender-se, o meu resmungar preguiçoso e a voz dele "Vá tem de ser. E o que tem de ser tem muita força!". Passados estes anos todos, depois de sair de casa e da voz do meu Pai ter sido substituída pelo toque sincopado do telemóvel, ainda é essa frase que sussurro a mim própria, enquanto as pernas se descolam dos lençóis e cada pé procura o seu chinelo.
O "tem de ser", o tal que tem muita força, leva-me para o chuveiro, conduz-me pelo trânsito para chegar ao trabalho, apoia-me nas tarefas mais complicadas, já me empurrou para entrar nuns tantos consultórios médicos e a ultrapassar exames orais e apresentações de trabalhos de curso.
O "tem de ser" é, em alguns dias, uma espécie de nuvem negra e pesada, que acompanha os nossos passos por dias de rotinas. O mesmo "tem de ser" é, noutros dias, uma sombra de nós mesmos, que tanto nos acompanha como nos abriga dos raios mais fortes do sol.

Até posso saber que o "tem de ser" é uma desculpa, é um dar-nos por vencidos, é um completo vazio de motivos e vontades. Contudo, nas manhãs em que o Tigy rebola na sua caminha pequena, com os olhos ainda pesados, a minha frase "Vá filho... Tem de ser!" soa a carinho. Na tentativa que esse carinho se aproxime do tamanho que tinha a frase matinal do meu Pai!

Nos dias que vivo, acordar, andar, conseguir, deitar, é um tem de ser de muitas forças. E a maior de todas está nos olhos deliciosos que vejo abrirem-se todas as manhãs e gritar "É dia?!"

- "Sim, filho, é dia. Temos de acordar... Vá tem de ser".

(Quanto à parte do ter de ser ter muita força... acho que ele tem tempo para perceber mais tarde.)


01 setembro 2008

O melhor de mim


O melhor de mim vem de dentro, de uma felicidade adolescente que trouxe desse tempo para ficar, e viver, comigo. É a felicidade que me faz apaixonada, fã, adepta, conversadora ou conversadeira. Uma menina de sonhos, a fazer valer as certezas, sempre a persistir, a vencer o medo, a usar o coração. De quando em vez, guardo o tempo que dou só para mim, escolho o silêncio, perco-me em balanços. Então desabam as lágrimas, recorro ao mais fundo da memória e, no fim, lembro de como gosto da vida que tenho.
Aquela que me fez por fora ser como sou: me deu o tom dos meus cabelos, os contornos das minhas mãos, os sinais do meu corpo, a forma como a roupa me cobre a pele. A vida que me enche de desejo ou de ciúmes, me tenta vencer pela preguiça mas sai vencida pelas manias que cultivo e pela força que mantenho. Usando da poesia, ouvindo os outros com atenção, sei guardar segredos e estar presente, sei apertar abraços e partilhar beijos. E, enquanto escrevo, transformo-me na melhor amiga de mim própria. Aquela que gosta tanto da forma como eu sou.


05 maio 2008

Mais e menos

Há 8 anos atrás, por dias próximos a este, eu e o Beguinho fomos pela primeira vez ao cinema juntos. Quando nem nos imaginávamos namorados, ainda nem propriamente amigos, muito menos marido e mulher e papás do meu filhote, uma saída de colegas de turma colocou-nos lado a lado frente ao ecrã para ver "Uma vida a dois". Confesso que me lembro pouco do filme mas a cena inicial sei bem como era: no final de mais um dia, a família reunida à mesa assinala os mais e os menos do dia de cada um.
Esta ideia de fazer como que um balanço diário em família ficou-me desse filme para a vida. Aqui por casa, muitas vezes se utiliza esse pretexto para se falar do tempo que passamos longe. Por agora, os mais e os menos de "Uma vida a dois" serviram para falar de uma semana passada em terras do Alto Alentejo com alguns pulinhos a Espanha, numas férias sonhadas e desfrutadas, merecidas e (quase) perfeitas.

Os mais do Beguinho foram Vila Viçosa, Cáceres e o livro que ele comprou em Badajóz. A Beguinha gostou de Juromenha, do Palácio dos Duques de Bragança e dos momentos na casinha que nos acolheu nestas férias. Para o Tigy o melhor de tudo foi mesmo as batatas fritas. Os mais destes dias a três, feitos de uma paisagem imensa, de um silêncio reconciliador, de petiscos saborosos, de castelos e castelos e mais castelos, de ruas estreitas e de estradas sem fim, multiplicam-se em cada foto que se revê ou em cada momento que se lembra.
Quanto aos menos... Bem, esses ficam mesmo para nós.

13 abril 2008

Sonhos de plasticina




Não há nada melhor para diminuir uma dor do que sentir outra maior. Assim como não há forma mais fácil de nos sentirmos maiores quando olhamos e temos, ao nosso lado, alguém mais pequeno. As dificuldades da vida giram em torno disto: do que sentimos e do que os outros sentem, de como a nossa dor é maior do que a dor do outro que não podemos entender e até de como é sempre mais fácil viver os problemas que não são nossos.

À escala dos seus dois anos e meio, a grande dificuldade actual da vida do Tigy é conseguir fazer xixi e cocó apenas no bacio. Nestas duas semanas de grande esforço, os quatro a cinco pares de calças diários (a que se juntam cuecas, meias e por vezes sapatos) foram diminuindo até ao dia em que as calças que o levaram para a escola foram aquelas que o trouxeram. E, assim, a recompensa há muito acordada foi entregue e o Tigy passou a ter em casa plasticina de várias cores para brincar.
Por agora, ainda vão sofrendo, de quando em vez, o sofá, os tapetes, os chinelos da mamã, mas cada xixi ou cocó no sítio correcto merece uma onda de aplausos e beijinhos que supera os anteriores deslizes.

Olhá-lo de pernas despidas, com os joelhos juntos, sentado no bacio em plena sala de estar, esforçando-se por conseguir fazer um pingo que seja que mereça os nossos elogios, tem sido o momento certo para me ajoelhar ao seu lado, olhando os seus olhos tão vivos, e fingindo fazer a força que ele precisa, sentir as dificuldades da minha vida quase tão valiosas como aquilo que se vê, no fundo do bacio, quando o meu filho dele se levanta.

Aquela sensação de que as grandes dores que trazemos podem realmente ser tão inúteis até pode passar no minuto seguinte, enquanto lavo o bacio e o recoloco no canto da sala... Mas se ela voltar, dentro de instantes, quem sabe se não ficará?

A dificuldade do meu filho em deixar as fraldas foi (quase) ultrapassada em pouco mais de duas semanas. As dificuldades que tenho em ultrapassar-me a mim mesma, em fazer mais por mim e pelos dias que tenho, pode demorar mais, pode a força ser mais exigente, mas, no final de tudo, exigirei a recompensa. E eu sempre quis experimentar moldar sonhos de plasticina...

10 março 2008

Dados lançados




...e, na mesa, calha 5 de um lado e mais 2 do outro. São 7 as frases a escrever, em tom de desafio, vindo de um Sótão de Ideias. Eram 7 coisas sobre mim, tantas quantas as maravilhas do mundo, os dias da semana ou os anões da Branca de Neve! Número igual às notas musicais e às cores do arco-íris! Precisamente a mesma quantidade de pecados mortais e de virtudes humanas.

A começar pelas VIRTUDES:

1 Tenho ESPERANÇA que o meu filho seja no dia de hoje muito mais feliz do que fui, sou ou serei em toda a minha vida.

2 Dizem da minha FORTALEZA coisas que não trago comigo, que procuro na pele ou por dentro das veias e que falha tanto. Mas começo a acreditar que, nestas coisas, o parecê-lo tem muito do sê-lo...

3 Não sei o que é isso da PRUDÊNCIA. Não sei se a tenho, se a consigo entender. Até porque os meus actos mais imprudentes deram-me as melhores razões para querer, pelo menos, aprender a ideia.

4 Sobre o AMOR escreve-se muito, lê-se demais, pensa-se pouco, sente-se sempre. Dele não sei a verdade nem a mentira, não sei se gosto dele sequer, porque é teimoso, porque não sai cá de dentro, porque quando se ouve na voz ou no olhar se mascara. Ele manda em nós e em toda a nossa vida e acaba por ser uma coisa estúpida e complicada desfeita num abraço simples dado por uns braços pequeninos.

5 Se houvesse JUSTIÇA fazíamos os dias diferentes, sempre melhores para nós e para os outros - aqueles que valem mesmo a pena. E isso seria até ser justo para connosco e para cada momento.

6 Parece que a TEMPERANÇA é ser moderado ou ter a capacidade de moderar: eu modero demais. Calo. Guardo. Escondo. Segredo. Sussurro. Engulo. Castigo-me. Aperto. E, no fim de tudo, seco por dentro.

7 Se há coisa que me faz acordar cada manhã é a FÉ de que um dias tudo estará diferente e que esse diferente será melhor.

E a acabar nos PECADOS:

1 A minha VAIDADE começa e acaba na roupa com os tons menos contrastantes possíveis e com a capacidade dos meus cabelos de estarem quase-quase lisos.

2 A AVAREZA era uma das minhas grandes características de criança. Qual Tio Patinhas amealhava todas as moedinhas que encontrava. Crescer também é isto: não encontrar moedinhas para amealhar.

3 Eu sou má. Eu tenho sentimentos maus. Como este da IRA, do desejo de vingança, da cólera, da raiva. Eu sou humana.

4 Se existisse uma palavra que me descrevesse seria esta: PREGUIÇA. Eu adoro a minha preguiça: a sesta com a manta no sofá, as manhãs na cama, o não-fazer-absolutamente-nada. Eu luto contra a minha preguiça: contra as sestas no sofá enquanto o monte de roupa por lavar cresce; contra as manhãs na cama enquanto o Tigy exige papa, brincadeiras e atenção; contra o não-fazer-absolutamente-nada quando o mundo inteiro espera que eu faça alguma coisa.

5 A felicidade tem qualquer coisa a ver com a LUXÚRIA e, se calhar, por causa disso mesmo é que é pecado. Porque até parece que é proibido ser feliz, ou pelo menos tentar, ou pelo menos parecer, ou pelo menos do menos pensar que isso é possível.

6 Eu tenho INVEJA das pessoas felizes.

7 E se há GULA no mundo que ela se dobre e desdobre em dias felizes para mim. Para nós. Mesmo.


Acabo por contar muito mais do que 7, muito mais do que 7X2, mais linhas do que as pensadas ou ponderadas. Talvez acabe por contar coisas a mais, até, sobre mim. E sobre tudo isto.

05 março 2008

Estas doze palavras

Vindo DAQUI
Indo para


Houve um dia em que tudo mudou.
E mudar parecia a melhor coisa do mundo, porque iria transformar a melhor coisa da minha vida, dentro da melhor coisa que eramos nós.
Tempos depois, houve outro dia em que tudo voltou a mudar.
E esse mudar era a pior coisa do mundo, porque iria roubar a melhor coisa da minha vida, arrancada da melhor coisa que eramos nós.
E hoje houve outro dia em que juntei doze palavras todas seguidas, que soltas e desordenadas até parece que não querem dizer nada... mas ditas, só para ti, em doze linhas ou nas que forem precisas, escritas, quem sabe, em doze minutos ou pouco mais, querem dizer tudo.

Este tudo, que muda, que junta a nossa vida, que dá sentido ao nós, que dita a rotação do nosso mundo, que é um nada que um dia é o pior e logo no outro o melhor de sempre.

20 fevereiro 2008

Palavras favoritas


Há uma coisa fabulosa em ter um filho: sentir o tempo passar. Assusta mas traz tantas e tão diferentes descobertas. A última conquista cá de casa está nas pequenas frases que o Tigy vai soltando quando menos se espera. Sim, é fantástico! O meu filho conversa comigo.
As palavras são cada dia mais perceptíveis e correctas e não há nada mais reconciliador com a vida do que rir e brincar com uma criança de dois anos e meio. Principalmente quando essa criança é a nossa.

Antes que o Tigy perca o seu dicionário engraçado, cheio de palavras por ele imaginadas, quero guardar aqui as minhas expressões favoritas. As dele. Ditas pela voz dele. Acompanhadas por aquele olhar que vem de mim.

Popó (Noddy) Pípi (Ruca) Pá (macaco de peluche) bacha (bolacha) Patita (Pateta) Pita (Mickey) Pupo (Lobo) "nã tem pilha" (quando os brinquedos não funcionam) "qué papo" (Nestum) "caca" (chocolate) Pai Tau (Pai Natal) "a minha bebé" (fralda) "o pé" (pé e sapato) Tita (ouriço de peluche) miau (gato) "bói a perna" (dói a perna) "tóia" (chora) "é dia" (Bom dia) "de nada" (quando ouve obrigado) "dá a mão" (ao adormecer) "pacha" (pasta dos dentes) "pó do Pai e o pó da Mãe (o carro do Pai e o carro da Mãe)...

mas as nossas preferidas: "Mamã" e "Papá", ditas perfeitamente e com sabor a ternura.

12 fevereiro 2008

Voltar atrás


No dia em que me descobri grávida senti a vida cair-me aos pés. Como se tudo o que tivesse vivido até aquele dia terminasse ali. Aquele é o tipo de coisa que só acontece aos outros e a mim, a 4 meses de entrar na igreja vestida de noiva, é que não podia acontecer mesmo.

Lembro-me bem de uma sensação que nasceu em segundos, um peso estranho na barriga como se ela já refugiasse um bebé prestes a nascer e não poucos gramas de um susto revelado há instantes. Por alguns dias ignorei tudo isso: a sensação centrada na barriga, o que dali iria nascer, o mundo completamente novo que se poderia abrir aos meus olhos. Durante esses dias concentrei todos os pensamentos em mim e desafiei o destino ou as lições da vida para inventar culpas e atribuir responsabilidades. Acabavam ali todos os sonhos criados anos a fio. Morria naquele instante um percurso certinho e rectilíneo desejado e seguido, sem grandes desvios. Para mim, por aqueles dias, perderam-se todos os ideais de sonhos tornados verdade e objectivos pelos quais se lutam durante semanas ou meses e se festejam quando realizados. O futuro não era nada daquilo e havia que inventar novos rumos para dar à história.

Houve quem me dissesse (alguém que sabia do que falava) que devia fazer uma espécie de luto, uma despedida do percurso de vida que sonhara para mim. Depois disso conseguiria aceitar, entender e ser feliz dentro de uma nova realidade. Esse dia, do meu luto, deixou-me trancada comigo mesmo, num diálogo sem palavras e quase sem movimentos. Talvez quando saísse dali, de pazes feitas com a vida, soubesse reconstruir os sonhos e fazer de um acaso a melhor conquista de sempre.

Passados 3 anos desses tempos vejo os dias seguintes como uma corrida de alta velocidade: das lágrimas resta pouco mais de uma névoa, seguiram-se os melhores meses de sempre, aqueles em que me senti sempre acompanhada de uma força e de uma vida que nunca experimentara antes e talvez não venha a sentir mais. E agora as birras de um Tigy de 2 anos e meio, que descontrolam os meus nervos e sugam tanta energia, fazem-me recordar os primeiros dias dele abrigado dentro de mim. Os tais em que me zanguei com o meu corpo e desejei dar passos atrás para poder seguir com a vida tão planeada para a frente. As birras do Tigy que são próprias da idade, que todas as crianças têm, que mais dia, menos dia passam quase sem darmos por isso. As birras do Tigy que não toleram "nãos" ou esperas. As birras do Tigy que me diminuem por dentro e me deixam as fraquezas à vista. As birras do Tigy que hoje me lembraram de tudo isto e me dão vontade de lhe pedir muitas vezes "desculpa" enquanto o vejo deitado e já adormecido. Se ele me desculpar talvez tudo ganhe sentido.

03 fevereiro 2008

Cuidar de nós



Manter um nome para manter um espírito, uma ideia que nasceu quando a barriga trazia uma surpresa e os dias cumpriam um ritmo desconhecido. Fazer dos refúgios novos espaços para sonhos nunca desfeitos, para ideias persistentes, para sentimentos que mudam mas não se extinguem, para regressos de tempos que, afinal, nunca partiram.


Voltar às páginas em branco para as encher de tudo e ignorar o vazio, saber que haverá sempre palavras, que haverá sempre razões para acreditar, que tudo o que é eterno é desafiante, que tudo o que nos muda nos completa e que voltar atrás é, muitas vezes, mais difícil do que dar passos em frente.


Este é o meu refúgio, o palco onde mascaro os rostos para lhes despir o corpo, para lhes iluminar a alma e vê-la, assim, à transparência. Este é o abrigo do que escrevo entre pedaços da minha história que compõem o todo da minha vida. Aqui vive o Tigy que me transforma todos os dias, que traz à superfície os meus maiores medos e toda a minha fragilidade. No entanto, e só por isso, me faz tentar ser cada vez melhor. Por aqui paira um Beguinho de uma Beguinha, aquele que me encontra na escrita para me sugar os defeitos e me revestir de uma beleza e de uma perfeição que não mereço, que não tenho. E aqui se escondem os traços do que vejo e do que sinto mas demoro a revelar, numa tentativa ingrata de ser quem sou só para mim.


Escrever para ser lida. Escrever para ver crescer o que é a escrita e o que é viver dentro dela. Escrever para saber que as melhores coisas da felicidade se conquistam por dentro. Aqui por dentro do que somos. Cuidar deste lugar como se cuida do nosso maior amor, dos nossos mais fortes sonhos, das nossas pessoas, aquelas que realmente importam, as que justificam tudo e que vieram para ficar. Cuidar deste segredo como se cuida de nós. Abraçando sempre todos e quaisquer acasos ou possibilidades.