22 dezembro 2006

29 novembro 2006

Conversa de pais


De que falam os papás quando o Tigy vai dormir?


Sentados no sofá, de comando na mão, de canal em canal:

- ...é tão querido... com a fraldinha na mão e a acenar, como que a dizer "boa noite".

- E ele sentadinho no sofá a ver o Noddy muito atento?!

- Agora faz birra para sair do banho. Gosta tanto! Chapinha, brinca com os patinhos, farta-se de rir...

- Olha é melhor ir lá ver se está tapado. Já venho.

- Bem ele hoje comeu imensa sopa. Depois perguntei se queria fruta e ele logo "qué qué" muitas vezes seguidas. Porta-se tão bem.

- Ó pá vai lá acordá-lo. Já tenho saudades dele.

- Ele é mesmo reguila e teimoso. Só quer mexer no que não deve... Eram as tomadas, agora passou-lhe, é a vassoura.

- Mas coitadinho. Ralhamos com ele, mas depois vai dormir e dá pena.

- Não achas que ele agora já se entretém imenso sozinho? Enquanto esvazia o cesto dos brinquedos diverte-se, espalha tudo por aqui...

- Queria mesmo ver este filme que estão a anunciar de desenhos animados. Vai ser tão giro quando o Tigy já for ao cinema!

- Bem, desliga a televisão. Vamos deitar.


Sussurrando mesmo ao lado do berço:

- Tão fofinho! Ainda bem que está coberto, senão ainda volta a tosse.

- Achas que está bem?

- Vou tapa-lo melhor...


Já deitados:

- E quando ele dormia aqui no meio de nós, muito pequenino? Tenho tantas saudades...

- Sim agora quando vem para aqui levamos cada pontapé...

- Já reparaste que ele já diz "não"? Dantes era tudo "qué qué"...

- É melhor ir lá ver se não está destapado!

- Espero que ele durma bem...

- Eu também.

09 novembro 2006

Os meus e os teus refúgios


Os meus refúgios são as minhas palavras...

proferidas
escritas
lançadas
cantadas
segredadas
pensadas
rimadas
programadas
conquistadas
erradas
acertadas
duras
doces.


As palavras dos poemas, como este do O'Neill que até fala delas...

«Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor,
de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.»


As mesmas que canta a Mariza.
Assim...

E vocês, onde se refugiam?

29 outubro 2006

Quando a mamã tem medo


No pequeno espaço de uma semana, a mamã Beguinha teve de encarar e ultrapassar os medos que vêem da infância e que, afinal, não se vão embora nunca.

Costumo dizer, e repetir, que se esqueceram de me dar coragem! Ao longo dos meus 27 anos nunca tive um impulso de aventura, nunca senti o sabor que ouço de alguns acerca do perigo, do desconhecido, da queda iminente, do escuro, do novo... Nunca andei na montanha russa, na verdade nem nos carrinhos de choque. Nunca gostei sequer de escorregas, baloiços, mergulhos no mar, zonas desertas, gente suspeita, becos escuros. Tenho pavor de andar de avião, de barco, de mota, de bichos de toda a espécie, de alturas, de velocidades... Da infância à adolescência, da juventude à idade adulta, os meus medos sempre foram a minha rotina e essa minha rotina sempre se fez num mundo de palavras, de folhas em branco, de canetas a escorregar no papel poisado nos joelhos. E, dentro do meu tempo, sempre vivi bem com a falta de coragem que tenho. Assumidamente.

Isto para contar que para além de ter visitado Paris e não ter subido à Torre Eiffel, que para além de ter fugido de tirar uma foto com uma simples arara no ombro, que para além de já ter feito toda a espécie de figuras ridículas dentro de um avião, durante as viagens mais pacíficas do mundo, eu sempre tive horror a vacinas e dentistas.

E, pois que, numa semana apenas, recebo a vacina do tétano, em atraso há cinco anos, por razões óbvias, e numa emergência, com dores imensas, causadas pelas consultas anualmente adiadas, por razões igualmente óbvias, tenho de ir ao dentista.
Lembro com uma certa vergonha, aquele dia em que, no centro de saúde, várias enfermeiras tiveram de me segurar para que uma delas conseguisse acertar com a agulha no meu rabinho. Lembro com imensa ternura as consultas no dentista, em que a minha irmã ficava sempre ao meu lado, enquanto eu lhe espremia com toda a força os dedos das suas mãos.

Agora, crescida, casada, profissional, mãe... foi sozinha, mas sempre apavorada, que enfrentei o medo. De braço exposto, tentando manter uma conversa de circunstância com a enfermeira, senti a agulha penetrar na pele, memorizando sempre que esta vacina é, apenas, de dez em dez anos. E dez anos é tanto tempo! Por fim, enquanto descia a manga da camisa, já sorria ao lembrar a dúvida, sempre latente na minha cabeça, enquanto aguardava a minha vez, de senha na mão, na sala de espera: "posso vir cá noutro dia"!
Dias depois, a viagem entre o trabalho e o consultório da Doutora Rosa foi feita completamente em pânico. E foi assim mesmo que me declarei ao encarar pela primeira vez a dentista. Depois de uma noite mal dormida, estar ali, naquela cadeira, com os olhos estacionados no candeeiro do tecto, e não sentir absolutamente dor nenhuma... desatou-me um sorriso! Envergonhado.

Nos tempos em que esperneava no centro de saúde para tomar a vacina, nos tempos em que entortava os dedos da minha irmã no dentista, pensava, afirmativamente, que os adultos, como a minha mãe, não tinham medo de agulhas ou tratamentos. Tinha a certeza que isto eram reacções de criança e que depois, milagrosamente, dissipavam-se.
Agora, mulher e mãe, descobri que há medos que não passam com a idade. Definitivamente. E que, se calhar, nunca serei a melhor pessoa para levar o Tigy a coisas como estas.

19 outubro 2006

Glossário das mamãs

Ter um bebé com um ano faz-nos descobrir novos canais de televisão, novos bonecos, novas canções, mas, por outro lado, leva-nos numa viagem ao passado, em que revivemos a infância, em que percebemos que temos as letras das mais velhas cantigas todas na memória, em que nos voltamos a envolver nas histórias e na fantasia dos desenhos animados. Nas conversas com os outros e nas leituras dos refúgios dos outros, já percebi que, agora, por causa dos filhos que temos, substituímos os telejornais, os concursos ou mesmo as novelas, por coisas como estas...

As pistas da Blue


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Conheço o Duarte como se fosse meu amigo de longa data. Sim, sei que anda sempre com uma sweat às riscas verdes e com umas calças beges. Mas, uma vez, apanhei o episódio a meio e estranhei o facto de ele estar de calças às riscas verdes e camisola bege. Lá mais para o fim descobri que era o pijama... Danço as coreografias e acompanho as canções: quando chega o correio, quando se descobrem as pistas, quando é a hora do adeus. Estou prestes a arranjar um bloco e uma cadeira de pensar. Só é pena não ter tanto jeito para desenhar...

Abram alas para o Noddy


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Até há bem pouco tempo eu não fazia ideia que o Noddy fosse tão antigo como os livros dos Cinco e, muito menos, que o rapazinho já existisse era eu uma criança.Mas, agora, sei toda a história sobre ele, seus amigos e conhecidos, incluindotodas as aventuras e desventuras do país dos brinquedos. Até sei as canções, o tom da buzina do carro, que o rapaz é tipo a DHL lá do sítio, que é um pouco azarado e que os episódios começam quase todos por "estava um lindo dia no país dos brinquedos". Aqui em casa, o Tigy come a papa na tigela do Noddy, janta no prato do Noddy, tem peluches, carro com buzina e tudo, e mais uma série de objectos com o adorado boneco. Claro que na festa do primeiro aniversário o bolo tinha a cara do Noddy. E estava perfeito!

Ilona


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Diz o papá Beguinho que o Tigy, com poucos meses, já reagia às canções desta menina francesa que passavam no MCM. Actualmente, não há outra coisa que se ouça cá em casa.Na verdade, o dvd está sempre dentro do leitor e não há melhor para acabar com uma birra... Dá direito a um quarto de hora de sossego, com o Tigy bem sentadinho no sofá, completamente hipnotizado a olhar para os videoclips. Só desejamos que editem as restantes canções em dvd, assim com bonecos bem coloridos e tudo! É que estas canções já não conseguimos mesmo ouvir...


Da Floribella às Doce Mania, da Lilly aos Parabéns aVocê do Panda, dos anúncios aos genéricos dos programas, qualquer música faz o Tigy balançar o corpo, fectindo as pernas ao ritmo dos sons. Vê-lo de rosto sorridente e olhar traquina, dançando com todo o entusiasmo, faz de mim a mãe mais feliz do mundo e, enquanto dura a música, prolongam-se os traços da minha felicidade.

08 outubro 2006

1,2,3 Nem uma colher de cada vez


De boca de leão bem aberta, o Tigy comilão aprovava qualquer receita, aceitava qualquer menu. Agora, de boca bem fechada, o Tigy rejeita quase tudo o que preparamos para ele.

A comida é, nos últimos dias, mais um objecto de brincadeiras. Sente a textura, prova e, por fim, atira fora. À sua volta, cadeira e chão, acabam fiéis depositários de tudo o que começou no prato para acabar no lixo.

Depois, na hora de dormir, com o estômago desaconchegado, o sono é instável e interrompido. Valem as papas pela manhã, um pouco de fruta, os iogurtes e as malvadas bolachas.
Folheia-se o livro "1,2,3 Uma Colher De Cada Vez", em busca da receita milagrosa, tenta-se uma ou outra coisa. E, sem sucesso garantido, as primeiras colheradas entusiasmadas acabam em birras e desmotivação.

Desta vez, sem ânimo para grandes palavras, peço-vos ajuda.
O que fazer?

21 setembro 2006

Aquele abrigo





Chovia torrencialmente. Eu, a caminho do trabalho por uma das estradas mais movimentadas do país, ainda trazia nos ouvidos o choro do Tigy, deixado na creche minutos antes. Na rádio iam falando do temporal, das centenas de pedidos de ajuda aos bombeiros durante a noite, dos acidentes, do trânsito e, também, das melhorias previstas para o início da tarde. Dentro do carro, rodeada da água que escorregava pelos vidros, maldizia a fila, as obras, a pressa da manhã. Aquele avançar a compasso permitia observar as pessoas a atravessarem a passagem pedonal aérea, mesmo à minha frente. Dei por mim a pensar que talvez devesse ser coberta, para não terem de correr de chapéu aberto e tanta tralha ao ombro, na urgência de apanhar o próximo comboio... Até que, por entre tantos corpos encolhidos pela chuva, um chamou a minha atenção. Uma senhora atravessava com um bebé pequenino ao colo, sem chapéu, mas com o "filho" bem abrigado com um casaco impermeável, munido de capuz. Fiquei a observar o seu percurso: o passo rápido, depois o cuidado extremo ao descer as escadas íngremes e, ainda por cima, provisórias, assemelhando-se a andaimes. Agarrava o "filho" sabendo que nenhum deslize poderia acontecer. Chegada a "terra", continuou a sua caminhada, já de costas, deixando eu, progressivamente, de ver o bebé e depois ela própria.
A fila de carros lá foi avançando, a chuva diminuindo, o dia correndo, mas aquela senhora ficou sempre comigo. A partir de hoje, ela andará no meu carro e o seu bebé ocupará metade da cadeira do Tigy, disposta no banco de trás e cheia de posições diversas, de cintos de segurança e de conforto. Eles dois andarão comigo para que eu não esqueça que me queixo muito para o tanto que tenho.

30 agosto 2006

Ficar com o tempo






Ao chegar a casa, depois do trabalho, tenho por estes dias as boas vindas do Beguinho e um sossego inquietante de uma casa sem Tigy. Agosto guardou para mim uma mistura de surpresas e acontecimentos, sem sabor definido ou rosto descoberto. Os dias de férias, entre a praia e o campo num Portugal que ainda só alguns descobriram. As festas de família, com casamentos, baptizados, bodas de ouro e aniversários. O regresso ao trabalho quase sem colegas, de sala vazia mas muito para fazer. A distância do Tigy que com os avós dá os primeiros passos e aprende as primeiras gracinhas. A estranheza de um mundo interior um pouco perdido de objectivos e, especialmente, de fortes vontades.
Talvez por tudo isto, ou simplesmente pela falta que, às vezes, nos faz a rotina, Agosto tem sido um mês gigantesco, com muitos dias dentro de outros dias, com muitos minutos semelhantes a horas e muitas tardes que mais parecem semanas completas. E, quando o tempo cresce sem medida, deixa muito espaço para saudades e para o passado entrar repentinamente pela porta ou por uma janela qualquer, ou então, entrar mesmo para dentro de nós... e ficar.

No meu passado cabe um ano inteiro em que vi e senti o meu bebé a soltar-se da minha barriga para o mundo, da minha vida para a dele. O Tigy, com um ano completo, já percorre a casa com os seus próprios joelhos e as palmas das mãos, já caminha na rua apenas por uma mão. O Tigy com um ano completo deixou as sopinhas sem sal e quer descobrir afinal o que costumamos ter nos nossos pratos. O Tigy com um ano completo carrega no nosso nariz para ouvir "trimmm", bate palminhas quando pedimos e diz "xau xau" quando é para ir embora. Porque o Tigy com um ano completo é cada vez menos um bebé.

No meu passado cabem muitos meses de Agosto cheios de tempo, mas nunca nenhum teve o sabor amargo a saudade que este mês tem.

25 agosto 2006

Renovar


Fazer dos meus refúgios um espaço ainda mais pessoal, onde me abrigo e onde vos recebo, onde faço das histórias um diálogo e dos diálogos boas histórias. Este foi o grande objectivo. Para o concretizar recebi...
o impulso diário do Beguinho,
a ajuda do Rui T. na composição do cabeçalho,
o talento de uma Artífice nas ilustrações da Beguinha e do Tigy,
e ainda a força de todos os que diariamente espreitam este refúgio à espera de novas palavras e, mesmo saíndo sem elas, voltam sempre.

Dedico este renovar ao meu Tigy que enche a minha vida de momentos,
dando-me sempre motivos para sorrir e para escrever.

26 julho 2006

Com amor



Cada vez mais - e sem saber muito bem como nem porquê - os meus dias sucedem-se compostos por coisas que queria fazer e ainda não fiz, por textos que queria escrever e ainda não escrevi, por ideias que queria concretizar e ainda são apenas isso... ideias.
Então, e porque o amor é também de certeza isto, o Beguinho escreveu o que eu tenho adiado sucessivamente, fazendo muito mais pelo meu dia do que todos possam imaginar.

O texto está no seu espaço de "Monstruosidades do Tempo
e da Fortuna"
e está também aqui de seguida...

« Um ano de Beguinha

Foi a 25 de Julho de 2005 que a Beguinha começou o seu blogue. A ideia era contar a história do Tigy e a história do Tigy começava, como todas as histórias de bebés, na barriga da mãe. Há cerca de um mês a Beguinha tinha muitos planos para assinalar a data... Não vou contar nenhum porque tenho esperança que, ainda que tardiamente, a Beguinha possa vir a concretizá-los.

A verdade é que hoje que a data se assinala, a Beguinha (que tem muito mais visitas que esta página no seu Refúgios de Felicidade) não teve tempo para completar a efeméride com tudo o que sonhava poder melhorar e oferecer aos seus leitores.

Uma vez disse-lhe: Ainda tenho de fazer um post sobre a tua blogosfera! É que a blogosfera da Beguinha é feita de partilhas! De mães e pais que sonham um mundo melhor para os seus filhos em vez de nada andarem a discutir através de muito discutirem o tudo que a imprensa agenda.

Feita de mães que abdicam e pais que se esforçam, de famílias que sonham, de homens que ajudam na lida da casa e mulheres que ajudam esses mesmos homens a fazê-lo. Feita também de casais que sonham famílias porque sonham ter filhos e não os conseguem. Feita por pais (aqui no sentido de progenitores) que com menos sorte na vida tiveram filhos com incapacidades inimagináveis e a eles dedicam ternuras descritas por palavras com que contam as pequenas (e grandes) alegrias que sempre nos dão os filhos (como quer que tenham, de nós, vindo ao mundo).

Depois a Beguinha tem palavras para todos eles e elas, tem lágrimas escondidas que se lhe adivinham ao canto dos olhos com os quais lê a vida de tantos outros e tem também o hábito de me contar essas histórias como se fossem de amigos e amigas. Com a preocupação e esperança que dedicamos aos assuntos daqueles que nos são queridos. Por isso a blogosfera da Beguinha não cabe (nem nunca coube) nas teorias dos grandes vultos da blogosfera dita nacional, que não é mais do que reconhecida forma de extrapolar fronteiras e olhar para além do umbigo onde encontram o seu sexo, os seus joelhos e os seus pés.

A blogosfera da Beguinha é como uma família. Dela faço parte porque sou pai do Tigy... Assim, assinalo a data, não com a grande renovação que a Beguinha tinha prevista para o seu espaço na rede blog, mas com o testemunho da mãe extremada e carinhosa que é, da profissional incansável que se demonstra, da mulher atenta e cooperante que se tem revelado. Um blogue é coisa boa, para o Tigy recordar mais tarde! Ele não verá as alterações que a pouco e pouco foste fazendo. A vida segue cá fora, onde a cada dia tens construído melhorias na nossa casa (aqui no sentido de lar). Hoje. Ontem. Há um ano.

Desde sempre...

Estás de parabéns. »


Obrigada Beguinho. Muito obrigada!

Com amor...

03 julho 2006

Dizer "não"



Um dia inteiro, em casa, com o Tigy pode revelar-se um verdadeiro desgaste. Nesses momentos, acho que até pago uma ninharia de creche e que realmente devia agradecer encarecidamente, às educadoras, a paciência diária que têm com um pestinha de 71 centímetros.

Sentado no chão da sala, com dezenas de brinquedos espalhados por todo o lado, o bebé quer sempre aquilo que ainda não tem: o comando da televisão, os telemóveis, as molduras, o candeeiro de pé, as revistas ou até os chinelos. Depois de muitos "nãos" seguidos, os papás acabam por esquecer as regras, afastar os objectos proibidos e cair exaustos no sofá... a observar. Qual formiga trabalhadora, o Tigy gatinha a 100 à hora pelo ínfimo espaço da sala que lhe está atribuído, o mesmo que definimos com a ajuda de um banco e de almofadas. Daquele rectângulo para a frente os perigos são ainda maiores: o degrau que separa a sala de estar da de jantar, as escadas, o forno, a lareira. Depois, trepa agilmente, agarrando-se com genica a tudo o que encontra. Queda ali queda acolá, o rapaz está cada vez mais imbatível.

Enquanto estava grávida e lia acerca das questões de segurança, quando se tem um bebé em casa, pensava sempre: daqui até ter de me preocupar com isto... Bom, esse "daqui até" transformou-se (sem eu dar conta) no agora e, decididamente, a minha casa, e eu mesma, não estamos preparados. Como é que um espaço tão pequeno encerra tantos perigos?

Sentados no sofá, cansados só de observar a energia do nosso filho, eu e o Beguinho vamos tentando fechar a cara e enfatizar o "Tigy não". Mas quem resiste aquele ar traquina, olhando para nós enquanto a mãozinha, escondida por trás das costas, atira - sorrateiramente - a moldura, que exibe a sua carinha pensativa com poucos dias de vida, para o chão?

13 junho 2006

Uma história dele
(na terceira pessoa)


Antes dele os grandes sorrisos ou as boas gargalhadas soltavam-se por motivos bem diferentes. Uma piada bem contada, uma surpresa original, uma boa notícia, uma outra aventura. Na verdade, não sei identificar com precisão o momento em que alterei os padrões do meu humor e os condicionalismos da minha vida, mas suponho que tenha alguma coisa a ver com ele.
Ou tudo mesmo.
Agora, as grandes alegrias da minha vida revestem-se de uma simplicidade ternurenta, porque são feitas pelo seu franzir do nariz, pelo gesto perigoso de abrir muito a boca para me tentar morder, pela forma carinhosa como me agarra a mão com a dele ou, somente, por uma pequena história relatada pelas educadoras no fim de mais um dia de creche.
E a história que despoletou tudo isto foi esta:

«Ai mãe ele hoje fez uma coisa engraçadíssima! Já andámos aí a contar a toda a gente... Andava aqui a brincar e, de repente, pega na fralda e toca a gatinhar com ela. Encaminha-se para a cadeirinha dele, trepa por ela acima, pondo primeiro os joelhos e dando depois a volta para sentar o rabinho, pega na fralda e lá está ele, pronto para dormir. Nós ficámos a observar aquilo... ele lá tinha sono e como não o tínhamos ainda deitado... olha deitou-se ele sozinho...»

Imaginar o meu filho, a gatinhar sozinho com a sua fralda, sala fora até à cadeira, preparando-se para dormir, sossegadinho, despertou, em mim, naquele momento, uma sensação sufocante de um amor imenso por aquele ser tão pequenino e, ao mesmo tempo, uma raiva angustiante por estar longe e ausente. Talvez por não ter sido eu a observar a cena caricata, a registá-la com detalhe e a relatá-la, agora, na primeira pessoa.

31 maio 2006

A vida mais colorida


A vida anda nublada, talvez acinzentada ou mesmo a preto e branco sem variações. Por entre nuvens, entre um lamento cansativo e uma brecha de esperança, fica afinal aquilo que realmente importa. As causas da felicidade. O refúgio de todos os sentidos. A razão de tudo.

Porque a vida fica colorida quando...

... o Tigy gatinha...
arriscando prolongar a cama para além do colchão.
sujando os joelhos e as mãos ao lavar o soalho com a própria pele.
arrebitando o rabinho e entortando uma das pernas para dentro.

... o Tigy passa da posição de gatas para sentado...
soltando um sorriso, feliz por já ser capaz de fazer o que quer.
agarrando o primeiro objecto alheio que encontra.
agitando os braços com toda a genica, soltando gritinhos coordenados.

... o Tigy palra...
dizendo claramente "mamã".
soltando monossílabos como "pá" e "pé".
repetindo outros sons que se assemelham sempre a qualquer coisa.

... o Tigy acorda...
começando a trepar pela cama, surgindo depois a sua carinha a espreitar.
sorrindo de imediato, pedindo muito para saltar para a nossa cama.
lembrando que são 7 da manhã e que não importa o dia da semana.

... o Tigy está muito embirrento...
percorrendo todos os colos sem sucesso.
espalhando todos os brinquedos pela sala não querendo nenhum.
abrindo muito a boca num lamento e mostrando mais dois dentes a romper.

... o Tigy toma banho...
querendo fazer acrobacias perigosas como levantar-se sozinho na banheira.
tentando agarrar no gel de banho para fazer sabe-se lá o quê.
atirando o máximo de água que consegue para o chão.

...o Tigy come...
abrindo muito a boca seja sopa de carne ou de peixe.
fazendo "brrrrrrrr" com os lábios mesmo com a boca cheia de papa.
chorando quando me vê a arrumar a colher no lava-louça.

... o Tigy faz asneiras...
lambuzando e trincando o telemóvel do pai avariando-o para sempre.
arrancando teclas do computador da mãe complicando a colocação de pontos e dois pontos
mordendo quando nos apanha distraídos.

... o Tigy adormece...
deixando o rabinho para o ar bem encolhido.
mexendo os lábios constantemente como se ainda mamasse.
deixando um silêncio de fim de dia que também sabe bem.
Muito bem.

23 maio 2006

O susto


Hoje o meu filho, com apenas 9 meses, fez-me passar uma grande vergonha.
Uma banal ida aos correios, para levantar uma carta registada, transformou-se no primeiro grande susto da vida do Tigy e no primeiro grande embaraço da mamã Beguinha.
À nossa frente, na fila, estava um senhor. Já não era novo, nem era propriamente bonito. Mas era simpático e quis mostrá-lo... ao bebé errado, no momento errado. O tal senhor usava uns óculos grossos, de massa pretos e, a cobrir-lhe quase por completo o rosto, ostentava uma grandiosa barba branca, com algumas manchas cinzentas. Uma barba daquelas que tapam a boca e as bochechas, aproximando-se das orelhas e dos olhos.
Ao primeiro gesto do senhor, em direcção à carinha do Tigy, para lhe fazer uma festa, o rapaz desata numa gritaria, começando a mudar de cor. Vermelho, quase roxo, o Tigy gritou, chorou, esperneou, e toda a gente que ria dentro da estação dos correios percebeu, incluindo o próprio, que o bebé teve medo do velhinho simpático.
A mãe - eu mesma - também de cor mudada, não sabia bem onde me meter e lá teve o senhor de me deixar passar à frente, lá comentaram todos o sucedido e lá saí eu com o filho aos gritos, a carta na mão, deixando para trás um velhinho decidido a cortar a barba ainda esta noite. De certeza.

14 maio 2006

Coisas dele




As minhas visitas deixaram-me uns presentes e eu, que gosto de as cuidar, retribuo com as minhas palavras.

As manias do Tigy - O presente do Docinho cor-de-rosa

“Regulamento: Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias de seu filho, hábitos muito pessoais que o diferencie do comum dos mortais. E, além de dar o conhecimento dessas particularidades, tem de escolher outros cinco bloguistas para entrarem igualmente no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs o aviso do recrutamento. Ademais, cada participante deve reproduzir este regulamento no seu blog.”

O Tigy tem a mania de...

1ª - fazer (literalmente) a ponte com a cabeça e os calcanhares, arqueando as costas e dobrando bem o pescoço. É uma mania aflitiva que deixa os pais à beira de um ataque de nervos, assim como as educadoras na creche e, até, a própria pediatra quando a visitamos. E eu sempre a repetir: o Tigy vai para o circo!

2ª - encolher o nariz, como se fosse um coelhinho, fazendo um som característico e tudo.

3ª - esfregar os olhos e quase arrancar as próprias orelhas quando está com sono.

4ª - roer o comando da televisão e os telemóveis, arrancar páginas de revistas e jornais, ou seja, estragar o que encontra à mão.

5ª - soltar gargalhadas quando a brincadeira lhe agrada, principalmente se inclui cócegas e gritinhos.

Coisas dele e minhas - O presente da Boca doce

O que a mamã fazia há 10 anos atrás: Andava no liceu, cheia de sonhos e de futuro.

O que andava a fazer o ano passado: Acabava de regressar de lua-de-mel e vivia deslumbrada com a sua barriga de 5 meses.

5 heranças da mamã: Os olhos, o tom de pele, uma mancha na perna, muitos mimos, algumas birras.

5 heranças do papá: O cabelo, o formato do rosto, a energia, a rebeldia... o sexo (!?).

5 snacks do Tigy: sopinha de carne, sopinha de peixe, iogurtes, papinhas e fruta moída com vários sabores.

5 brinquedos favoritos: o comando, o telemóvel, a fralda, a caixa dos toalhetes e a caixa dos óculos do pai.

5 coisas que não gosta: andar sossegadinho na cadeira do carro, pôr o cinto na cadeira de comer, vestir depois do banho, dormir muito e estar sózinho a brincar.

5 coisas que não percebe ou não quer perceber: que a comida dos papás não é para ele, que é bom dormir, que a mamã quer ver televisão sem ele estar sempre a mudar de canal, que o telemóvel não pode ser atirado para o chão como ele faz e que não dá para ler revistas todas rasgadas.

Desafio todos os que se sentirem desafiados.

06 maio 2006

A festa do Tigy (quase ausente)

O dia mostrou-se sorridente. Cheio de sol e de expectativas. Tal como há um ano atrás... Quando os pais, vestidos de noivos, receberam os mesmo rostos para um momento só deles. Agora, o dia era do Tigy ou dos pais para ele.

Acordou com febre, com birras, com dentes a aparecer, com um sono constante e sem qualquer espécie de vontade de ir para uma festa. Mesmo que fosse a dele.
Chegaram os amigos, a fotógrafa. Vestiu-se o bebé de traje de gala e sandália de Verão. Juntou-se a família para as fotografias, mas o anfitrião não queria flashes, naquele dia. No adro da igreja, aguardavam todos os convidados pelo Tigy enérgico e divertido, de sempre. Mas ele não foi. Durante o baptizado, manteve-se adormecido no colo imperturbável do avô, uma espécie de refúgio como este. Mas onde não são precisas palavras ou desenhos, comentários ou demasiadas explicações. Basta enrolar os braços, embalá-los, suavemente, e deixar ficar...
A água que correu a cabeça e molhou o cabelo desatou o choro, o mesmo que findou com o rezar lento e trauteado do Pai Nosso.
Ficou o Tigy mais acompanhado, parte de uma Igreja que conduz, que une, que concilia, quem quer, quem acredita, quem merece. Talvez!

No palco da festa, distribuíram-se lugares à mesa retratando as salinhas dos infantários. Assim estiveram presentes...

os macaquinhos, amigos e familiares do papá,
que partilharam a mesa com ele e com a mamã, deixando vago o lugar do Tigy adormecido.


os gatinhos, onde estavam os bisavós do Tigy, que gostaram tanto de estar no seu baptizado e que gostariam tanto de assistir ao seu casamento.


os patinhos, amigos da mamã, com quem se partilham tantos anos de convívio, vendo casamentos e nascimentos, aniversários e outros festejos assim, sempre sem saber como é que o tempo passa tão depressa...



as ovelhinhas, cujo rebanho era composto por amigos da mamã de tanto passado e com tanto futuro e, especialmente, pela madrinha do Tigy, a minha mana, que delineou a festa comigo ao longo destes últimos meses.

os pintainhos, o grupo amarelinho das minhas amigas (e seus pares) da casa amarela e da vida em todas as cores.


os cachorrinhos, ou seja, os avós maternos do Tigy e uns amigos deles que são também nossos. Inabalavelmente.


os sapinhos, onde estavam os pais do papá e outros familiares, como que sentados à beira de um riacho sossegado.



os coelhinhos, o grupo de amigos dos meus pais, sempre presentes como supõe a palavra amizade.


e os ursinhos, as minhas pessoas de sempre, que dizem que sim, que comparecem e que me seguem a vida com alegria. Como eu sigo a delas.

Mesmo com o Tigy sem sorrisos para a fotografia, a festa reuniu quem fazia falta nela, quem seguiu os primeiros meses de vida do meu bebé com carinho e dedicação, aquela que coloquei em cada detalhe, a mesma que senti nas palavras escritas e nos traços desenhados, à mesa, nos envelopes fechados deixados na caixa para o Tigy abrir, um dia mais tarde. Porque junto a cada prato estava um envelope e uma folha de carta para que cada convidado deixasse umas palavras ou uns desenhos para o Tigy. Trouxe a mamã a caixa cheia para casa. Inesperadamente. Agradavelmente.

Antes das despedidas e por entre papel de embrulho rasgado, algumas conversas postas em dia e aquele sabor a pouco que fica nas festas especiais, ficou a lembrança para os convidados. A mamã agradece às meninas talentosas do "Sei lá de mil cores" pela ajuda!

Passada uma semana, o Tigy está melhor. Afinal, eram dois dentes a nascer, tudo misturado com uma virose esquisita, que lhe cobriu o corpo de borbulhas vermelhas, nos dias seguintes. Houve até um deles em que a mamã ficou em casa com o bebé e em que se sentiu o mesmo cheiro e o mesmo sabor dos meses em que vivíamos assim: os dois, em casa.

Aos presentes, muito muito obrigada!

19 abril 2006

Vitórias conjuntas


Chegaram depois de mais de duas horas de viagem. As malas não estavam prontas, nem eu. O Tigy ia com os avós, para dois dias de ausência, a mais de 200 quilómetros de mim. O plano estava traçado há várias semanas: nas férias da Páscoa, com a creche fechada e os avós mais libertos, o bebé ia para lá. E foi mesmo.
Aquele momento do carro dos meus pais a afastar-se trouxe-me uma sensação completamente nova. Não sei se de medo, se de perda, se de arrependimento. Os meus pais - as pessoas a quem devo quase tudo, as pessoas em quem mais confio neste mundo - levavam com eles o meu bebé. Portanto, naquele instante, tornaram-se ladrões em fuga com o meu mais precioso bem.
Na sala, com o Beguinho ainda no trabalho, o ambiente estava sinistro e o silêncio doía. Mesmo. Naquele serão, o jantar perdeu o sabor e a programação televisiva o sentido. Abusou-se nos telefonemas e olhou-se pelo canto do olho para os lugares do Tigy – o parque, a cadeira, o cantinho do sofá, mais tarde a cama, a banheira, a casa inteira.

Na viagem sul-norte os papás saudosos tiveram de enfrentar trânsito, calor e a pressa da chegada. Comigo no banco da frente – como há tanto tempo não acontecia – vencemos os quilómetros ao som das canções dos nossos primeiros meses de namoro. Na noite anterior, qual casal solteiro e sem filhos, fomos ao cinema e jantámos uma sandes, numa noite semelhante a tantas do passado.
À chegada, escondido atrás da porta ao colo da avó, o Tigy revelou-se pasmado e o sorriso tímido trouxe, para o meu colo, o meu filho de volta.
Os dois dias com os avós deram-lhe muitos passeios, atenção exclusiva o dia inteiro e um apetite gigante, quase desmedido.

A primeira Páscoa do Tigy, a primeira ausência da minha vista e as grandes vitórias: já não mama, dorme tranquilamente na sua caminha e durante a noite inteira. Graças aos avós ou graças aos papás que o deixaram ir e souberam estar sem ele.

07 abril 2006

Relances


I
Foi num relance que a vi. Assim, num acaso, no meio de um corredor de hipermercado, entre o gel de banho e o champô de camomila. Passaram tantos anos e conheci logo a sua silhueta esguia e o tom do cabelo. No momento que se seguiu à despedida, recordei aquele primeiro dia da primeira classe. A professora grávida, os rostos conhecidos da infantil e ela: a menina nova, de pasta rígida amarela, pela mão, a combinar com o cabelo. E foi ela o centro de todas as atenções. Pelo menos vejo-o, assim, agora. Passados vinte anos. Sim. Vinte anos. O que para nós ainda é uma vida inteira. Para mim, ela é ainda a menina da pasta amarela, a minha colega de carteira durante anos lectivos a fio, quem vi casar no intervalo grande da manhã com um dos poucos rapazes da turma, a mesma que eu detestava que adoecesse porque ficava sem os lápis de cor giotto com que eu adorava pintar. Deixamo-nos já jovens mulherzinhas, prontas para a faculdade. Ainda nos fomos cruzando nas viagens entre casa e Lisboa, e as conversas faziam-se sempre de recordações. Agora, no encontro por acaso, fica aquela sensação de que já se passaram tantas coisas e mudaram outras tantas. Mas quando se reencontram as pessoas da infância elas nunca nos vêem grávidas ou com filhos dentro de um carrinho, talvez nem sequer nos vissem casadas, nas compras mensais para o lar. Aos olhos delas, ainda arrastamos a pasta pelo corredor da escola e ainda brincamos no recreio ao mata e à macaca.

A ti, amiga de sempre, te digo: podem passar muitos anos, viverem-se muitas coisas, alterarem-se padrões do quotidiano e até formas de ser e pensar. Mas tudo o que vivemos e fomos, uma para a outra, em tempos tão bonitos, perdura, perdura, perdura. E é capaz de mexer cá dentro e revolucionar o refúgio dos sentimentos.

II
Foi num relance que me encontrei. A mim. Mamã ainda estagiária, prestes a desabar. Cansada. Talvez atada ou confundida. Os meus dias sucedem-se, nunca faço nada do que quero, nem faço o que faço da forma como queria. Vivo assim entre tarefas por cumprir e um sufoco por me faltar tempo ou capacidade para o conseguir usar, gerir, esticar. Envolvida nesta insistência em ser perfeita e ficar muito aquém de qualquer objectivo...

III
Foi num relance que me emocionei. Com o texto que li: palavras de um pai, plenas de sinceridade e de verdade. Nada melhor do que deixar um texto tão perfeito, escrito por outras mãos, quando as nossas não chegam para todas as ideias, para todas as exigências.

23 março 2006

No trânsito com as lembranças


Ao ritmo da palavra repetida - Palminhas! Palminhas! Palminhas! - o Tigy abre as mãos pequeninas e rechonchudas e junta-as, ao nível do peito. Assim, com um gesto tão simples e banal o nosso bebé marca o dia e desarma-nos de toda e qualquer preocupação. Na verdade, o nosso filho de 7 meses bateu palminhas, sozinho, respondendo ao pedido da cantilena, num acto deliberado e consciente, e isso é importante demais para ser ignorado.

Hoje, dentro do carro, tentando romper a chuva na pressa que une o tempo entre o trabalho e a creche, recordei este e outros momentos dos últimos dias, numa espécie de "best of" musical. Com o pé leve no acelerador, mantendo a velocidade de cruzeiro que a estrada inundada exigia, ri com o Tigy de saco de papel na boca, recusando-se a entregá-lo ao pai. Lá dentro estavam as prendas e cá fora um Beguinho entusiasmado, no seu primeiro dia do Pai. O Tigy ficou com o saco para roer, o Beguinho com as prendas e eu com uma vontade pateta de ver chegar o meu dia - o da Mãe.

Ultrapassado um verdadeiro temporal de vento e água, paro o carro numa fila de outros tantos. Olhando de soslaio a cadeira vazia do bebé, no banco traseiro, revejo o contorcionismo invulgar que ele faz para sair dela.
Trancada no meio do trânsito, de vidros embaciados e irritação na garganta, os escassos metros que me separam da creche e, principalmente, o nevoeiro envolvente levam-me ainda para o banho da noite anterior. O primeiro na casa de banho feita sauna, o primeiro com um pato flutuante e com champô Johnson - que saudades tinha eu daquele cheiro! -, o primeiro em que acabei de cabelo a pingar e de costas doridas.

Com o terminar da viagem, e antes mesmo de trancar a porta e correr para resgatar o meu bebé, ainda tive tempo de sorrir com a perspectiva de que o dia, para nós dois, estava apenas a começar.

13 março 2006

Nós dois e o sol


Às 4 em ponto saímos os dois da creche. O sol da rua e o calor no corpo não fazia prever uma ida directa para casa. O Tigy ao colo da mãe franzia o sobrolho e fechava o olho encandeado com tamanha claridade. Foi um curto passeio, que incluiu uma ida à farmácia e um olhar desconfiado pelas montras que anunciavam as colecções de Primavera/Verão. Chegados a casa, abrimos todas as janelas de par em par e mesmo as rotinas ganharam um brilho diferente. Deitados na cama, acompanhados pelo sol e pela tarde mais comprida, rimos abraçados e soltámos gritinhos estridentes, entre beijinhos e outros mimos típicos do meu bebé, como palmaditas, arranhões, beliscadelas e mordidelas. Ainda lembrei as mazelas que o Tigy deixou na terra da Mãe... O balanço do fim-de-semana inclui: arranhão no lábio da Tia, corte na cara do Avô, várias marcas dos dois dentes nos dedos da Avó e um sem número de cabelos arrancados das mais diversas cabeças.

Vivido este primeiro dia com sabor a Primavera, fica a promessa de passeios mais demorados e de tardes cada vez mais compridas, cheias das nossas cumplicidades e dos nossos segredos.

05 março 2006

Manhãs de fim de semana


Ao fim de semana, deitados lado a lado, eu e o Tigy esquecemos as horas e perdemos a manhã, bem juntos e adormecidos. O pai acorda com o despertador, na pressa de ler o jornal semanal e aproveitar o tempo livre em casa. No lugar dele, no lado direito da cama, fica uma almofada. O quarto cheio de luz, os ruídos da rua e mesmo as entradas subtis do pai, de quando em vez, não incomodam o suceder de horas com as cabeças próximas e as pernas enlaçadas.

O teu corpo pequenino enche os meus braços e o teu respirar interrompe os meus sonhos para te olhar.

E assim, apenas aos fins de semana, revivo os nossos primeiros tempos, quando todas as manhãs partilhávamos a cama e o sono. Sei que também tu gostas desta nossa cumplicidade, da forma como viramos o corpo para adormecer melhor e do esforço que fazemos para levantar, para começar o dia e, principalmente, para esperar cinco dias por outro fim de semana.

Ah! E hoje dormes na tua cama.

28 fevereiro 2006

De 4 em 4


De blog em blog, de resposta em resposta, de passado em passado, esta moda dos desafios ainda nos vai fazendo pensar, recordar, perspectivar... mas, acima de tudo, ajuda-nos a conhecer as vidas alheias e a mostrar um pouco das nossas.

Quatro empregos que já tive na vida (pelo que vi em vários blogs esta pergunta faz parte do original, apesar de quem me passou a ter ignorado):
1. estudante, do Colégio para o liceu e deste para a Universidade;
2. locutora de rádio - que saudades;
3. jornalista, quando ainda alimentava ambições;
4. redactora de textos - o presente.

Quatro filmes que posso ver vezes sem conta:
1. "O clube dos poetas mortos" e choro sempre no grande final;
2. "Aeroplano" e rio sempre com os mesmo pormenores;
3. "Ocean's eleven" e entusiasmo-me sempre com a genialidade do plano;
4. "O casamento do meu melhor amigo" e tenho sempre esperança que a Julia Roberts case com ele no final.

Quatro sítios onde vivi:
1. Na minha terra, onde será sempre a minha casa;
2. Numa residência universitária feminina (Lisboa) - um ano apenas e milhares de histórias;
3. Na zona do Marquês de Pombal (Lisboa), sete anos a dividir tudo com 6 amigas e como costumo repetir "há casamentos que não duram tanto";
4. A minha casinha das bonecas, numa das mais típicas zonas de Lisboa, onde sou feliz com o meu marido e o meu bebé.

Quatro séries televisivas que não perco:
1. "O sexo e a cidade" e ainda estou para perceber que encontrei eu de mim na vida daquelas quatro malucas;
2. "Morangos com açúcar" - posso perder de quando em vez, porque a TVI repete muitas e vastas vezes;
3. "Beverly Hills" - bons tempos;
4. "Britcom" - quando era aos sábados à noite: venha que série vier vale sempre a pena.

Quatro sítios onde estive de férias:
1. Palma de Maiorca, deixa cá ver... sim é isso: 5 vezes que já lá estive e volto sempre com a mesma alegria;
2. Costa Nova: as ondas enormes, o vento, os dias em que a bandeira estava verde, os hambúrgueres do bar da praia, a bolacha americana, a companhia. Recordações felizes;
3. O Algarve, não sou grande apreciadora mas português que se preze já passou férias no sul;
4. Outros Verões, outras viagens: Bélgica aos 14 anos, Malta aos 15, Inglaterra aos 17, Brasil em 2004, etc, etc.

Quatro dos meus pratos preferidos:
1. Lasanha e quase tudo o que faz parte da comida italiana;
2. Bacalhau de mil maneiras;
3. Arroz com atum - complicadíssimo mas uma iguaria;
4. Mousse de chocolate, para qualquer ocasião.

Quatro Websites que visito diariamente:
1. Os blogs dos meus amigos, conhecidos e de alguns desconhecidos também;
2. Os meus mails;
3. O SAPO, para saber coisas do mundo, em poucas palavras;
4. O GOOGLE - há sempre qualquer coisa para pesquisar.

Quatro sítios onde gostaria de estar agora:
1. Num qualquer resort, junto à piscina, com um livro nas mãos, ultrapassada a viagem de ida de avião e com a de regresso bem distante;
2. Num concerto, na plateia de um teatro ou até sentada no cinema - porque tenho saudades;
3. Sentada numa mesa de uma pastelaria, porque estou a ficar com fome;
4. Em casa, sentada no sofá à média luz, vendo o meu bebé dormir, ou seja, onde estou agora. E está-se aqui bem!

Quatro bloggers que desafio a fazer este questionário:
1. Blueangel, que está sempre pronta a dizer que sim;
2. Formiguinha, que tem sempre qualquer coisa a dizer;
3. Fadista, a ver se anima o blog;
4. E, claro, o meu Beguinho - pensavas que escapavas?

24 fevereiro 2006

O momento deles




Soa a chave na porta e o "bac" que a fecha adivinha mudanças no rosto do Tigy. Chega o pai e há um sorriso aberto e profundo que lhe inunda a cara, chegando a arranhar a garganta e a fazer rugas nas bochechas. Os olhos ficam pequeninos e rasgados e os gritinhos de alegria ecoam na sala. O pai, de rosto condizente, abraça-o e beija-o, solta gritinhos semelhantes e enceta um rol de teatrinhos e mimos.
Eu, no canto do sofá, disfarço algum embevecimento ao assistir aquele momento, fingindo-me distraída ou mesmo ausente. Aquele é o momento deles. O meu é, talvez, aquele em que o trago no carro no fim de mais um dia; aquele em que entramos em casa e a encontramos de janela fechada e cheia de silêncio; aquele em que nos sentamos no sofá e, mesmo sem ele pedir, nos abrigamos, muito juntos - enquanto o Tigy mama, eu redescubro os traços do seu perfil e o desenho das suas mãos. Naquele instante, o dia passado assemelha-se gigante e há um misto de saudade e nostalgia que intensifica o sossego e o aperto do colo.

Ali, no momento que é só deles, há uma magia especial feita de cumplicidade, entregas e recompensas. O Tigy do pai não quer leite, nem abraços de silêncio; quer antes canções e gargalhadas, danças e passeios pela casa, voos e conversas. Em troca, tem para ele, aquele sorriso enorme, aberto por uma alegria sincera, que me humedece os olhos e me faz sair, despercebidamente.

Ouve-se a chave. E enquanto a porta não fecha, reolho o bebé atento ao ruído. Está prestes a começar o tal momento. O deles.

15 fevereiro 2006

O desafio das manias


O desafio chega de muitos lados e, depois de pensar variadas vezes que não conseguiria responder porque nem tenho manias, cheguei à conclusão que andava enganada a meu respeito. Depois de uma noite de insónias, com tosse à mistura, consegui encontrar, em mim, muitas mais do que cinco manias das esquisitas. Ficam as melhores. E as regras:

"Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."

Tenho a mania de...

ler sempre a última frase de um livro novo

ler revistas e jornais de trás para a frente

ter saudades do que foi e não volta a ser

analisar minuciosamente a colher de café antes de a colocar na chávena

inventar jogos complicados, cheio de regras que só eu entendo, para jogar na cama quando não consigo adormecer

Desafio...

o meu Beguinho, que conhece bem as minhas manias;

a Formiguinha, que também tem das dela;

o Heartbreaker, cujas manias davam um livro cómico-trágico;

a SombrArredia, porque as suas manias me fascinam;

e a Anacrónios, que quero conhecer melhor.

Desafio cumprido, passo o testemunho.

14 fevereiro 2006

Vice-versa


O meu bebé teve dores de barriga, vómitos e falta de apetite. Passados uns dias, a mãe sofreu do mesmo mal.
O meu bebé tem febre, tosse, dores de garganta e nariz entupido. A mãe está em casa a convalescer de igual doença.
A maternidade é ainda isto: as minhas doenças também são as tuas, e vice-versa.

04 fevereiro 2006

Sabores do regresso


À minha Mãe,
porque há coisas que não se agradecem


A palavra regresso sempre teve, para mim, um sabor açucarado. Da minha boca já saiu inúmeras vezes a frase: "Gosto muito de viajar, mas adoro regressar a casa." Agora, regressada ao trabalho, conheci o outro lado de uma mesma palavra, um lado mais cinzento, feito de um sabor mais azedo.

O fim de um tempo sem exemplo preencheu-se com alguns sustos e muitos imprevistos. Ao cabo de cinco meses, o Tigy adoeceu. Uma virose comum, diz a pediatra, composta de febre, diarreia e vómitos. Tudo misturado com constipação e dentes a nascer. Um estado que se estendeu aos restantes membros da família, eu incluída, e que agitou os meus últimos dias por casa. A algumas horas de um primeiro dia de trabalho, de um regresso, de uma obrigação, o veredicto de que não havia creche até passarem todos os sintomas, derrubou uma réstea de optimismo que pairava em mim, por causa do tal regresso.
Soube ali, naquele momento, que não sou tão forte como supõe a palavra "mãe", que não sou tão decidida como supõe a palavra "adulto", mas que sou suficientemente apoiada e acarinhada como supõe a palavra "filha". Obrigada à minha Mãe pela viagem madrugadora, pelos dias ao lado do Tigy e por ter tornado este meu regresso um pouco mais leve, um pouco mais condimentado.

A frase: "0 que não nos mata torna-nos mais fortes" traduz-se, aqui, numa semana complicada, que tornou a transição - entre dias cheios de tempo para dias com falta dele - mais tempestuosa, mas mostrou-me que daqui para a frente assim será: horas de trabalho, horas de regresso a casa, horas de Tigy, horas para os meus refúgios. Ou antes pedaços de horas para um pouco de tudo.
Recomposto, cheio da energia que tem e transborda, o Tigy é agora o meu melhor regresso, quando acaba o trabalho e começa a vida, quando se cumpre a obrigação e começa o prazer.

23 janeiro 2006

A culpa e as desculpas



Há um silêncio na casa que a televisão, a música, a máquina que lava a roupa e os carros que passam na rua, mesmo juntos, não conseguem romper. É um silêncio de solidão, um silêncio de ausência.
Os brinquedos espalhados pelo chão, as mantas de lã dobradas, a cadeira vazia, são marcas de uma saudade, que se reflecte até na inércia dos meus braços e na leveza do meu colo.
Acima de qualquer outro sentimento, hoje fiquei com a culpa. É ela que me segreda o quão é injusto não o ter aqui, o quanto é penoso não saber que pensará ele desta distância, feita da minha ausência. Fixada nas horas, remoendo justificações e obrigações, fico eu neste vazio de um dia tão comprido e frio.

Entre a porta da creche e o carro, seguro-o com força nos meus braços e digo-lhe, muitas vezes, ao ouvido: "Desculpa". Mas que desculpas são estas que se repetem, que não se evitam e que, especialmente hoje, apenas carregam a minha tristeza?

18 janeiro 2006

Hoje falo de mim


Gosto de gostar e gosto de quem gosta de mim. Não gosto de fazer de conta, de parecer bem e não gosto ainda de mostrar que gosto do que não gosto. Gosto mesmo é de repetir que “não gosto de fazer fretes”.

Gosto de livros, de cadernos, de revistas e até de folhas em branco. Gosto de escrever, de acreditar que ainda sei como fazê-lo. Não gosto de conversas inacabadas, de histórias redondas, de frases cortadas por silêncios de receio. Gosto de criticar. Não gosto que me digam que estou sempre a criticar.

Gosto de coisas simples: de bolachas molhadas em café, de bolo de chocolate recheado com chocolate e coberto de chocolate. Gosto de arroz com atum, de coca-cola (muito, muito) e de refeições no sofá em frente à televisão. Tenho pena de não gostar de leite, de receitas inovadoras e de gastronomia elaborada. Mas, no fundo, não tenho pena nenhuma.

Não gosto de pessoas invejosas e muito menos das que vivem ao ritmo das vidas dos outros. Gosto de pessoas cheias de histórias, de ideias, de talentos, de mistérios. Não gosto é de quem diz gostar de toda a gente. Não gosto de perder as minhas pessoas. Gosto da minha família. Gosto dos meus cães. Mas não gosto da distância, dos quilómetros. Não. Não gosto mesmo.

Gosto de estar em casa. De ficar em casa. De permanecer em casa. Não gosto de limpar a casa. De arrumar a casa. Mas do que eu não gosto mesmo é da casa suja, é da casa desarrumada. Gosto de andar de carro. Gosto quando a rádio dá uma música diferente. Não gosto de filas, de estacionar longe, de pôr gasolina.

Gosto de música com palavras. Mas palavras cheias de sentido. Não gosto de grande parte dos grupos e cantores que aqueles da minha idade gostam. Normalmente nem sei quem são. Gosto é da Mafalda Veiga e da Mariza; da Adriana Calcanhotto e da Marisa Monte. Gosto mais de música no feminino. Não sei é porquê.

Gosto de gente da televisão. Adoro actores, actrizes, realizadores, encenadores. Não gosto de lembrar que não sou um deles. Não gosto de maus actores, de maus textos, de maus finais. Mas gosto de palcos, de câmaras, de microfones. E gostava de um dia andar por aí.

Gosto daquelas coisas que todos gostam de dizer que não gostam: telenovelas, baladas do momento, centros comerciais. Gosto realmente é de dias de chuva, de tardes escuras à lareira, de manhãs na cama, de casacos e camisolas de gola alta. Gosto de lembrar quando gostava de ir à praia. E gosto de frisar: verão, areia, bikini e mar não me fazem falta nenhuma. Ou quase.

Não gosto de deixar tanto por dizer. Gosto de ter gostos. De duvidar deles. De os contrariar. De os ver mudar com a idade, com as surpresas dos dias, com a rotina, comigo. Não gosto de desgostos. Mas gosto de saber que foram os maiores desgostos da minha vida que me deram todo este gosto de viver.

Gosto de ser mãe.
E basta dizer isso para dizer quase tudo sobre mim.

12 janeiro 2006

O corredor


O corredor é longo e recto. Parece desenhado de propósito, para que a "Sala dos Bebés" fique no seu final e as mamãs, de coração apertado e garganta seca, possam testar os seus próprios limites: cada manhã conseguem ir mais além sem virar a cabeça para trás... cada dia está lá, mais ao longe, o bebé ao colo da educadora. Cada dia mais longe.

Cumprida quase uma semana de creche o Tigy, segundo uma das educadoras, tem fortes probabilidades de passar de ano. Eu, a mãe, confesso que fiquei feliz com tal prognóstico e, por instantes, até esqueci como tem sido estranho andar na rua, entrar nas lojas, conduzir, estacionar, sem a companhia dele.

Na noite anterior ao primeiro dia dormi pouco e mal. Sentia-me mais ansiosa do que triste, talvez mais curiosa do que medrosa... No meio das insónias, revivi as noites mal dormidas de quando era criança e, no dia a seguir, havia vacinas ou análises. Qual menina com medo da agulha, levei a tralha, o marido, o bebé e aquelas duas primeiras horas do Tigy na creche foram compridas e insossas. À medida que se sucedem os dias, sinto o tempo a voltar ao ritmo certo, a ameaçar travar nos cinco minutos que me separam de casa à creche e a saltar incontroladamente quando voltamos, os dois, para a nossa sala, para as nossas coisas, para o nosso Refúgio de Felicidade.

Sim. Tem corrido bem. Ele come a sopa toda. Não tem ficado a gritar. Não o tenho encontrado a chorar. Sim. Tem corrido bem. Vem com a fralda lavada. Vejo-o receber beijinhos. A sala está quente. As pessoas são simpáticas. Sim. É verdade. Tem corrido mesmo bem. Mas trocava este "bem" por mais uns dias da vida que tínhamos.

05 janeiro 2006

Sobra amanhã


Amanhã é o nosso último dia juntos, a sós. O último da nossa rotina destes meses, desde que nos conhecemos. Uma rotina que contruímos à escala do nosso conhecimento, ao pulsar do teu crescimento, à medida das minhas próprias rotinas. Amanhã termina um ciclo que teve tanto de bonito como de feliz e é por isso que custa encerrá-lo.
Não quero descrever de que banalidades terei saudades... do nosso acordar a partilhar a cama, dos meus almoços de queijo, banana e goibada e das cólicas que tiveste depois, da ginástica que fazes com os braços e as pernas mesmo quando estás prestes a adormecer, dos primeiros sorrisos, das actuais gargalhadas, da chegada do carteiro, das idas ao supermercado, à lavandaria, à farmácia, aos correios, da hora dos Morangos com Açúcar e das danças ao colo ao som dos DZRT, da chegada do pai... não. Não quero lembrar. Terei muito tempo para isso. Na próxima semana. Na seguinte. Nas outras todas também.
Sei que estes foram dos meses mais bem passados que tive, quem sabe que terei... Sei que ter-te, trazer-te, descobrir-te, tem sido uma experiência saboreada e intensa. Sei que dentro dos nossos dias um pouco iguais existiram sempre momentos singulares, feito do inesperado da tua presença. Sei que nada mudará no que sinto por ti, sei que nada mudará no que sentes por mim... Só não sei como é que te vou deixar lá sem ficar também...